Dentre todos os princípios da governança corporativa, o mais abrangente é o da Responsabilidade Corporativa, que diz respeito à missão dos administradores de zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações no tempo, sem perder de vista eventuais consequências negativas de seus negócios.
Até pouco tempo esta responsabilidade estava associada majoritariamente à palavra “sustentabilidade”, mais identificada com aspectos ambientais. No entanto, a visão mais moderna indica uma perspectiva mais ampla, que leva em conta os diversos capitais envolvidos: o financeiro, o intelectual, o humano, o social e o reputacional, seja no curto, no médio ou no longo prazo. É preciso ter em mente todos esses aspectos ao articular um plano de Responsabilidade Corporativa que indique a busca pela longevidade de uma organização.
Vale frisar sempre que, segundo o Código de Melhores Práticas do IBGC, “Governança Corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo o relacionamento entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e o controle das demais partes interessadas (stakeholders)”.
Neste sentido, almejar atingir a denominada Responsabilidade Corporativa é passar a perceber a organização em sua acepção mais abrangente. Além de buscar implementar os princípios da Transparência, Equidade e Prestação de Contas de forma objetiva, cabe aos gestores imaginar como preparar-se para suplantar as adversidades, a fim de superar as barreiras do tempo.
Influência das mudanças tecnológicas na estrutura das corporações
Há poucos anos, uma organização que possuísse um modelo de negócios estabelecido, com bons clientes, faturamento e geração de ebitda positivo tinha o caminho aberto para garantir aos seus sócios um longo período de resultados financeiros. Contudo, as mudanças tecnológicas têm sido tantas e tão rápidas que, em um curto espaço de tempo, um novo player pode – através de uma inovação disruptiva – tornar-se um novo e relevante ator mesmo em mercados dominados por grandes incumbentes.
Pode-se usar como exemplo o que aconteceu com o mercado da telefonia fixa com a entrada do Skype, na telefonia celular com a disseminação do uso do Whatsapp, no transporte de pessoas com o advento do Uber/Cabify e no mercado de hotelaria com a explosão do uso do AirBnB, entre outros que já revolucionaram definitivamente nosso modo de vida.
Para enfrentar este desafio as organizações precisam, antes de traçar qualquer plano, abrir a mente de seus gestores para temas que antes seriam da alçada do gerente da antiga área de Informática. Inovação e tecnologias se tornaram tão estratégicas para a sobrevivência das organizações que precisam ser pauta do Conselho de Administração ou, se ele não existir, das prioridades dos Diretores e do CEO.
Mesmo com estes temas no radar de todos, as inovações sempre acabavam adiadas para o próximo orçamento. Com a pandemia, a transformação digital teve que ocorrer às pressas, com a exigência do home office, webinars, vendas remotas, viagens adiadas e riscos aumentados. Quem já tinha se adiantado no tema assumiu uma melhor posição e já colhe resultados.
Planejamento estratégico na longevidade de uma organização
E o que isto tudo tem a ver com governança? Uma organização que se pretenda longeva, precisa ser capaz de enxergar além das gerações que hoje zelam pelo seu presente. O planejamento estratégico precisa estar alinhado com o acordo de sócios que contém as regras de sucessão empresarial, sucessão esta que não é mais sinônimo apenas de substituição de executivos após seu falecimento.
Não! Sucessão é algo vivo e dinâmico que precisa estar alinhado com regras claras de ingresso e ascensão de herdeiros (no caso de empresas familiares) e em consonância com os planos de cargos e salários dos executivos. Ter sempre um “número 2” pronto para assumir a posição é condição sine qua non da empresa moderna e que pretende atingir o seleto clube de organizações centenárias.
Para tanto, será fundamental escolher valores e princípios de conduta que nortearão todas as relações com os mais diferentes tipos de público: sócios, colaboradores, clientes, fornecedores, prestadores de serviços, vizinhos, a comunidade local, o Estado, o País e mais do que nunca, a rede mundial de computadores.
A Responsabilidade Corporativa de uma organização tangibiliza a percepção de que ela é um ator global, com impacto local e desta premissa bimodal devem surgir as bases para as orientações de suas políticas com um olhar sempre apontado para o longo prazo.
ESG e sua importância no cenário corporativo
Dessa forma, surge no cenário a sigla ESG – Environmental/Social/Governance, que sintetiza todas essas questões e vem ganhando força no mercado, pois conecta estes assuntos, antes mais filosóficos, com a realidade. As empresas mais valorizadas nas Bolsas de Valores, mais competitivas nos certames e mais admiradas nos mercados serão aquelas que melhor souberem demonstrar que de fato possuem as melhores práticas nestes três pilares, em bom português: ASG (Ambiental, Social e Governança).
A equipe do Portugal Vilela – Direito de Negócios conta com especialistas em governança corporativa e direito societário. Em caso de dúvidas, estamos à disposição.